quinta-feira, 28 de abril de 2011

A sutileza da nostalgia...





Seria estranho voltar ao sul do Chile e não me sentir nostálgica, não recordar os momentos felizes e outros não tanto que vivi aqui. As ruas, o idioma, as pessoas, os lugares, as vozes, as músicas, enfim, tudo isso me faz sorrir e às vezes chorar.

Chorar? Sim, mas não de tristeza e sim de saudade de dias que não vão voltar. E pensar que aquele ano eu rezava para os dias passarem rápido. Santa infantilidade! Queria eu ter a maturidade de hoje naquela época. Não teria reclamado nem comparado tanto a cultura do país com a do meu. Teria aproveitado mais.

Não que não tenha aproveitado, mas considero relativamente pouco pela quantidade de dias que aqui passei.  A gente sempre pensa que tudo poderia ser melhor, pena que é só depois que perdemos a oportunidade de ter feito de um  dia simples algo fantástico.

Tirei um dia para passar pelos locais que me trariam recordações boas e também as não tão boas. Alguns eu entrei, já outros não tive tanta coragem. “Calle - Los Digitales, bloco J - 4º piso”. Esse foi o meu endereço por sete meses. Um apartamento de dois quartos, banheiro, sala e cozinha.

Subi até o quarto andar me sentei na escada –que agora tem uma proteção de plástico verde e não dá pra ver a praça que fica do outro lado da rua. Ali costumava tomar um copo de vinho ou uma caneca grande de café e dividir um cigarro com um certo chileno ao anoitecer.

Nesse mesmo lugar dividi sorrisos e lágrimas de despedida. Foi estranho me sentar ali e não ver a praça e não ter o vinho, o café ou o cigarro compartilhado. Senti saudades da parceira, Janaína, do chileno, da doidinha Naiara, das aulas e até do Caupolican, o Pastor Alemão que tinha mania de me lamber.

Tive vontade de bater na porta e pedir para entrar, só para ver se as paredes ainda estavam com as cores que pintamos. Se a cozinha ainda contava com o papel de parede que compramos e saber se essas pessoas morrem de frio com o aquecedor que ficava só na cozinha. Não tive coragem, seria demais!

Desci e caminhei até a praça que eu costumava olhar da escada ou da janela do apartamento e fiz o contrário. Olhei para o apartamento sentada na calçada da praça. Sorri por saber que ali fui feliz, mesmo não sabendo. Registrei em uma foto a visão do prédio, coloquei a câmera no bolso e sai com a certeza de as coisas boas devem ser guardadas e as ruins esquecidas.

2 comentários:

  1. Só posso falar uma coisa, se você não tivesse passado por isso tudo não teria a maturidade que tem hoje para reconhecer e aprender com os erros! E para ver que faria diferente no passado, mas isso não quer dizer que não possa fazer diferente no futuro! Boa sorte com tudo ai Renata! Cheguei hoje, vejo e sinto 5% do que sente ai agora! Quero voltar para lá mesmo sentindo saudade do meu país, minha cultura! O que você está sentindo ai é só uma bela e magnífica lembrança do passado.

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  2. É o que é pelo fato de ter vivido tudo que viveu. E em todas as linhas ouvi sua voz contando o relato, sincero e sereno, com um tom de saudosismo, como várias coisas que já falamos. Não se preocupe, olhe para trás com a certeza de que fez o certo e mire à frente, aproveitando para compreender que tem as ferramentas certas para sua felicidade. O que o Rodolfo disse é certo e tem razão em todas as linhas, flor.

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